sábado, 31 de março de 2012

Viagem ao Brasil

Esse texto é baseados em experiências próprias e em experiências de amigos brasileiros que também vivem permanentemente no exterior, em especial uma amiga muito querida que vive nos Estados Unidos, com quem tenho tido o prazer de compartilhar desde o inicio a minha jornada de vida longe do Brasil e, é claro tenho a alegria de estar “presente” na jornada dela. Essa amiga, recentemente foi passar férias no Brasil e assim que retornou para casa me ligou contando tudinhoooo, então achei que a saudade do Brasil , a alegria de viver no exterior e principalmente a mistura das duas coisas mereciam uma publicação no blog então ai vai...

VIVER permanentemente no exterior, refiro-me a etapa de quando você não é mais um estudante ou viajante, mas sim quando o seu mundo é nesse novo país, quando a vida é real, você passa a aprender sobre política, sobre as leis, sobre os custos dessa vida real, sobre a cultura local de uma forma detalhada, aprende como que é realmente conviver com as pessoas dessa nova cultura a qual agora você também faz parte, sobre os hábitos, manias, valores, forma de pensar dos “locais”. Ai é quando você forma conclusões, seus conceitos sobre o país e principalmente sobre as pessoas que habitam a sua pátria escolhida, e é claro que inevitavelmente durante esse processo de FAZER parte disso tudo, sua formação de conclusões e opiniões a respeito de tudo é feita comparando com o seu país, pessoas e a sua cultura de origem.

No inicio, suas conclusões são bem claras e você tem um opinião muito definida sobre tudo e todos, consegue perceber exatamente as diferenças entre sua realidade antiga e a nova, fica feliz e até aliviado de perceber que embora sua nova realidade não seja um conto de fadas, tudo funciona, as leis são leis pra todos, o dinheiro dos impostos que você paga são realmente aplicados da forma como você sempre achou que era certo (saúde, educação, bem estar da população, estradas perfeitas sem nenhum buraquinho, calçadas impecáveis, tudo limpo, tudo muuuuito limpo) e a sensação é exclusivamente de que você fez a escolha certa, ter ido viver nesse novo país, nessa nova realidade foi uma escolha genial, você tem a certeza de que nuuuuunnnnnca mais voltará a viver no país em que nasceu, nunca mais voltará a viver no Brasil, pois viver no Brasil é para os loucos, você não consegue entender como conseguiu viver lá durantes os anos que viveu, não consegue entender como as pessoas que você conhece conseguem viver lá...ai vem uma grande sensação de alivio, conforto, a sensação de ter tirado a sorte grande, de que todos os “perengues” que você passou para chegar nesse ponto valeram a pena.

O tempo vai passando, os anos vão passando e a cada vez que alguém te pergunta: How long have you been here? (Quanto tempo faz que você está aqui?) teu coração parece que vai saltar pela boca quando você percebe que a resposta não é mais 6 meses, um ano, um ano e meio, dois anos, mas sim quase cinco anos!!!!!! Aliás, passado dois ou três anos, inicia-se o processo contrário ao que aconteceu no início, você começa a achar defeitos nas coisas, o fato do país ser muito verde e lindo já não te impressiona mais, a limpeza, organização, governo menos corrupto do mundo, respeito, etc já fazem parte do dia a dia portanto, também não possuem o mesmo impacto gigantesco como antes, já não fazem mais teus olhinhos brilharem como antes. A população de educada passa a ser chata, fria,  infeliz, uma população que só sabe reclamar, povo de mentalidade pequena, povo mesquinho, falso que diz por favor e obrigado para tudo só porque é hábito, não porque realmente tem educação e respeito ao próximo. Você começa a questionar sua escolha, pensa que deveria voltar ao Brasil, ficar próximo das pessoas que ama, dos amigos, poder comer tudo que tem saudades, ter todas as frutas e vegetais fresquinhos que só um país tropical pode te oferecer, tem saudade da sua cultura, do quanto amável o povo brasileiro é, do quanto bom é ter todo mundo reunido para um bom churrasco de domingo, o quanto maravilhoso é ter uma roda de chimarrão comendo uma deliciosa cuca de coco, começa a pensar que o Brasil não é tão ruim assim, que quem sabe você conseguiria viver em sua pátria imposta novamente, que talvez essa SIM é que seria a melhor decisão, a escolha certa.  

 Assim esses sentimentos de dúvidas sobre a sua escolha começam a se misturar com os sentimentos iniciais, tem dias que você ama sua pátria escolhida e fica orgulhoso de você mesmo por ter coragem e garra para viver do outro lado do mundo, outros dias acha que a escolha foi uma grande bola fora que deveria era mesmo ter ficado com o seu chimarrão e cuca de coco, com teu churrasco, com o rodízio de pizza e ter fingido (como a maioria dos brasileiros faz) que o governo da sua pátria imposta não é um dos mais corruptos do mundo, que o Brasil não é um país de injustiças, que a futilidade e consumismo do povo brasileiro não te irritam tanto assim, que a saúde e educação não são uma bosta (perdão o termo, mas sou sincera).

Então, quando você já não agüenta mais viver com essa dúvida e acha que teu cérebro vai ter um curto circuito pensando se foi certo ou errado ter ido viver na pátria escolhida, quando a saudade das coisas boas do Brasil está quase fazendo teu coração parar de bater, você viaja ao Brasil, tira férias, vai comer tudo que tinha saudade, vai visitar a todas as pessoas que queria que morassem a uma quadra de distância de onde você tem morado nesses últimos cinco anos, come cuca de coco, um bom churrasco, mata toda a saudade, se enche de alegrias, coloca todo o papo em dia, fica com o coração novinho em folha novamente.

E o melhor de tudo não é isso, pois você descobre que só de colocar o pé no aeroporto no Brasil o seu cérebro passa por um processo de regeneração espontânea, pois só de pisar em solo Brasileiro você já percebe que estava reclamando de barriga cheia sobre sua pátria escolhida e que lá sim é o seu lugar, que a decisão de viver do outro lado do mundo foi SIM a mais sábia decisão que você tomou, que a impressão de que você nunca pertenceu ao país onde nasceu não era só coisa da sua cabeça, mas sim a verdade mais verdadeira.

E ai você come, bebe, abraça, beija o povo e quando vê ta louco pra correr de lá, para dar no pé para voltar a sua realidades que é tão mais colorida, a conviver com um povo que pede por favor e desculpa para tudo, para o lugar onde tudo funciona, para o país onde os direitos e deveres são iguais para todos, o lugar onde você  pode ser quem você é, pode fazer suas escolhas sem ninguém dar palpite, o lugar onde as pessoas não olham se sua roupa é de marca, se seu carro é importado, o lugar que você se sente seguro, importante, realizado, em paz,  o lugar onde você se sente em casa, para a pátria que é a sua pátria, ao país que você tem muito orgulho de chegar no aeroporto e passar na imigração como cidadão, ao país que você acolheu chamar de seu, o país que te aceitou, te acolheu quando viver no Brasil já não servia mais para você. E essa sensação é única e inexplicável, só quem já passou é que sabe como é senti-la.

Obrigada minha amiga querida por me ligar e compartilhar tua experiência de viagem ao Brasil, e principalmente por me fazer relembrar da minha viagem ao Brasil e do quanto tenho reclamado de barriga cheia sobre a minha pátria escolhida.

Um beijo enorme aos que amo e sinto saudades, mas a vida real é aqui nesse país far far away !

Com carinho,
Adri

quinta-feira, 1 de março de 2012

Brasil: amor e ódio

Tenho uma relação com o Brasil de amor e ódio, isso não é novidade para os que me conhecem de verdade, coisas como o 'jeitinho brasileiro' de ser me embrulha o estômago, a falta de cultura e educação me deixa zonza e a forma de parecer ser quem não é me faz vomitar, literalmente. O fato é que sempre me senti um peixe fora d`agua no Brasil, pois não sei dar tapinha nas costas, não sei dar sorrizinho simpático às pessoas que não gosto, não sei não dizer exatamente o que penso, posso talvez não dizer nada, mas se for dizer algo será sempre minha opinião verdadeira, é uma tarefa impossível dizer algo só porque é o que os outros querem ouvir. Sempre fui assim, pra mim as coisas são ou não são, ou é oito ou oitenta.

Lembro exatamente o momento da minha vida em que cheguei à conclusão que havia nascido no Brasil por um acidente geográfico. Foi quando trabalhava em uma empresa “bem conceituada” onde praticamente 95% das pessoas do departamento em que eu trabalhava eram falsos e ‘puxa sacos’, o ambiente era recheado e coberto de muita hipocrisia, na época pensava que seria um favor para a humanidade se o prédio pegasse fogo com as portas trancadas e com os 95% do povo insuportável dentro. Não preciso dizer que o ano que trabalhei lá foi o mais longo da minha vida, mas só recentemente quando alguém publicou uma foto da ‘equipe’ no Facebook dizendo que tinha saudades, e a foto teve muitos comentários dos funcionários da época, foi que me dei conta de duas coisas muito importante, a primeira é que essas pessoas são da forma como elas agem, não estavam só fazendo ‘média’ o é que ainda mais revoltante, pois como alguém pode ser ISSO! A segunda coisa que aprendi  é que eu deveria de certa forma agradecê-los, pois eles fizeram parte do meu processo de descoberta, descobri quem/como eu NÃO queria ser/ter ao meu redor.    

Então digamos que essa publicação do blog é para a tal ‘equipe’.....

Agora fica a grande ‘sacada’ da vida, nada acontece por acaso, repito:
ABSULUTAMENTE NADA NA VIDA ACONTECE POR ACASO.

Até mesmo as situações/coisas difíceis, indesejadas, insuportáveis acontecem por um motivo, claro que a maioria não faz sentido durante o momento em que estamos vivendo as, mas o tempo traz as respostas. Recentemente aprendi algo ainda mais interessante, cheguei à conclusão de que na vida a gente aprende muito mais com os sonhos/objetivos que não conseguimos realizar/atingir do que com os que conseguimos. O importante é tentar, afinal ficar no canto chorando as pitangas, envelhecer e olhar para traz e ver que não teve coragem de tentar deve ser algo desesperador, mas tentar com garra, dar 110% de si mesmo e não alcançar é humano. E tenha certeza que se não for possível atingir tua meta é por que não era para ser.

  
O que importa é ver a vida com olhos coloridos, pensar no bem estar maior, ser você mesmo indiferente do que os outros pensam, ter seus valores bem definidos e não se deixar influenciar pela lavagem cerebral do momento. A vida é muito curta e eu garanto que é possível encontrar um lugarzinho nesse mundão onde seus valores serão aceitos, onde você poderá ser você mesmo, basta ter coragem para procurar!